sexta-feira, 25 de março de 2011

A multiconcepção de natureza

         Como vimos, a natureza, na sociedade capitalista, adquire valores totalmente diferentes daqueles estabelecidos na Idade Média, e o mais incrível é que o capitalismo, à medida que busca novas formas de reprodução do capital, por meio de novos modelos, acaba por imprimir novas idéias na concepção de natureza. Basta lembrar que no século XIX, ele se apropriou da Teoria da Evolução de Darwin, para legitimar sua ideologia liberal, em que a exclusão social passou a ser explicada como uma ordem natural das coisas. Desde a década de 1970 do século XX, estamos assistindo a mudanças na forma de conceber a natureza, em que inúmeras organizações não governamentais passaram a defender a bandeira da preservação ambiental.
         Alguns pensadores chamam a atenção para a necessidade de uma maior consciência ecológica, no sentido de levar a sociedade a se conscientizar de que esta não existe separada da natureza. A visão do capital sobre a natureza também tem sofrido modificações, pelo menos no que se refere ao ritmo de exploração. O capitalismo já não mais defende que a natureza precisa ser sugada, explorada inescrupulosamente, por representar uma fonte inesgotável de recursos.
        Não, o capital tem mudado o seu discurso e já inclui no seu dicionário a defesa do desenvolvimento sustentável. Nesse caso, cabem algumas considerações: o que estaria por trás dessa "nova" concepção de natureza? Será que o capital está se aproximando do conceito de natureza das comunidades primitivas? Será que agora ele defende os mesmos interesses defendidos pelos movimentos sociais e os ambientalistas? Essa preocupação do capital com a natureza acontece apenas como um discurso, pois se analisarmos o que se passa atualmente, constataremos que os recursos que garantem a reprodução do capital não são inesgotáveis, como se pensava e defendia-se até décadas atrás. Agora, a preocupação volta-se para a manutenção desses recursos enquanto geração de riquezas. Dessa forma, o que existe é a busca de uma preservação dos recursos naturais metamorfoseados em preservação ambiental, em que o desejo e o objetivo reduzem-se ao mero campo do aspecto econômico. É importante salientar que a ideologia capitalista tem difundido a idéia de que o grande responsável pela degradação ambiental é o consumismo, eximindo de culpa aqueles que são responsáveis pela produção exacerbada e socializando-a. Dessa forma, tem surgido o conceito de "homem abstrato", pois a linguagem que se usa afirma que é o homem que degrada a natureza. Mas de que homem se está falando? Não, não existe o homem abstrato discursado pelo capital, o que existe, na verdade, são homens concretos, que muito têm lucrado com a exploração desses recursos e com a concentração das riquezas e que agora buscam a socialização dos prejuízos.

           Não se pode deixar de lado a luta pela preservação da natureza, como também não se pode ser adepto e defensor de uma visão romântica, que situa a natureza como algo intocável. É preciso ter plena consciência sobre essa artimanha do capital, para não cairmos no modismo ambiental e nos tornarmos agentes ambientais a serviço do capitalismo. Se percebermos que essa natureza não pode ser vista como máquina, mas como parte do próprio homem, perceberemos que é necessário que a preservação não seja apenas da biodiversidade, mas também da sociodiversidade, afinal sociedade e natureza possuem uma única história. A relação entre a natureza e o homem não se dá de forma abstrata, mas concreta. A partir da transformação do natural, essa sociedade passou a produzir sua própria existência, intermediada pelo processo do trabalho.


COSTA, Jodival Maurício da. A multiconcepção da natureza. Publicado em 24/02/2005.
Disponível em: . Acesso em: 07 mai. 2010.