terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A PAISAGEM NA GEOGRAFIA II

            É comum encontrar pessoas que pensam que saber Geografia é aprender muitos dados, saber qual é população de todas as cidades do mundo e poder citar e localizar todos os novos Estados africanos. Algumas pessoas acham que a Geografia tem a ver com os mapas e também com a descrição de viagens pelo mundo.
           Cada uma dessas crenças populares tem algo de verdadeiro. A localização, os dados e os mapas são recursos que a Geografia utiliza, recursos esses que geram a habilidade de “olhar geograficamente ”, isto é, a capacidade de observar e interpretar os distintos processos naturais e sociais, tanto diretamente na realidade, como por meio de mapas, fotos aéreas, imagens de satélites e outras representações do mundo real.
          A observação e a interpretação da fisionomia da paisagem - que é a porção do lugar que a vista alcança - faz parte da essência do saber da Geografia.
         Olhar e pensar sobre o que está presente em cada rua de sua cidade, em cada campo plantado, em cada montanha ou floresta pode ajudar a compreender como natureza e a sociedade se combinam para moldar as diferentes formas que existem na superfície da Terra.
          A noção de paisagem, para a Geografia, não deve ser confundida com a do paisagismo, que está ligada a uma concepção de estética na distribuição de objetos em um jardim ou um parque. Para a ciência geográfica, a paisagem deve ser entendida como indicadora de conteúdo vivo e de processos dinâmicos, isto é, em constante transformação.
           A interpretação da paisagem para a Geografia é a busca da explicação científica de como as formas que observamos são o resultado visível da combinação de processos físicos, biológicos e humanos ou antrópicos (do grego antropos = homem). Percebida por intermédio de uma visão científica, a paisagem ganha uma abordagem com características próprias de um método de pesquisa. Assim, o estudo da paisagem se constitui num dos mais antigos métodos de estudo pertencentes à Geografia.
          Em cada lugar da superfície terrestre, as condições de vida são o resultado de uma interação dos distintos elementos naturais, trabalhados pela atividade humana, com maior ou menor intensidade. Mesmo na Antártida, onde as condições inóspitas de clima dificultam o estabelecimento permanente do homem, as marcas de sua atividade estão presentes no buraco da camada de ozônio que altera as condições naturais do continente gelado.
            Porém, independentemente da ação humana, podemos afirmar que as paisagens são também produtos das mais diversas combinações de fenômenos naturais, que apresentam sua própria diversidade, a exemplo do relevo, que aparece em distintas formas e dimensões.   
Essas formas diferentes de relevo contribuem para criar diferentes paisagens de montanhas ou planaltos.
           Por sua vez, as condições climáticas são determinantes para a diversidade das formações vegetais e para o processo de formação dos solos. O clima também está presente nos distintos agentes de erosão, a exemplo das chuvas ou do vento.
Por isso, também é responsável pela modelagem do relevo. Assim, os diferentes processos físicos e biológicos interagem mutuamente na formação do que se chama substrato natural da paisagem.
          Por causa das atividades humanas, a paisagem natural vai sofrendo múltiplas modificações no decorrer do tempo, transformando-se numa paisagem humanizada, pela incorporação de elementos culturais.
          De acordo com a atividade predominante da população de um lugar, vão se estruturando paisagens de diferentes características, segundo os graus de transformação dos elementos naturais, e conforme a intensidade e a orientação da atividade humana. Desse modo, podemos diferenciar paisagens agrícolas, minerais, industriais e urbanas.
           O maior impacto das atividades humanas está presente na paisagem urbana, que é o produto de atividades ligadas à indústria, ao comércio e ao serviço. Isso mostra que a paisagem não é dada para todo o sempre, mas que é objeto de mudança permanente.

Favela dos Alagados - Salvador / Bahia
            É nas cidades que melhor podemos observar a dinâmica da paisagem, dada a velocidade das transformações que ocorrem no espaço urbano.           A cidade é uma espécie museu vivo da história do trabalho e das técnicas desenvolvidas pela sociedade. Casas antigas e modernas, ruas com grandes edifícios comerciais ou pequenas vilas, praças e monumentos mostram que o trabalho humano se incorpora ao espaço em que vivemos, o qual está em constante transformação. Pode-se dizer, então, que as paisagens são como as fotografias que refletem as combinações entre processos naturais e sociais em um espaço geográfico, no decorrer do tempo histórico.
           Existem na paisagem indicações muito claras dos processos sociais que as moldam. Um bairro pobre de uma cidade reflete desigualdade social na apropriação da renda, evidenciada nas ruas sem calçamento, nas praças abandonadas, nas valas abertas por onde correm os esgotos.
          Se soubermos observar e interpretar a paisagem, isso permitirá que tenhamos uma concepção de como o lugar que ocupamos no espaço geográfico é o resultado das condições sociais em que vivemos.
Paisagem e espaço não são sinônimos. A paisagem é o conjunto de formas que, num dado momento, exprimem as heranças que representam sucessivas relações localizadas entre a sociedade e a natureza. O espaço são essas formas mais a vida que as anima.
          O espaço é a sociedade, e a paisagem também o é. No entanto, entre o espaço e paisagem o acordo não é total, e a busca desse acordo é permanente; essa busca nunca chega a um fim.
          A paisagem existe, através de suas formas, criadas em momentos históricos diferentes, porém coexistindo no momento atual. No espaço as formas de que se compõe a paisagem preenchem, no momento atual, uma função atual, como resposta às necessidades atuais da sociedade. Tais formas nasceram sob diferentes necessidades, emanaram de sociedades sucessivas, mas só as formas mais recentes correspondem a determinações da sociedade atual.
         O espaço não pode ser estudado como se os objetos materiais que formam a paisagem tivessem uma vida própria, podendo assim explicar-se por si mesmos. Sem dúvida, as formas são importantes. Essa materialidade sobrevive aos modos de produção. Mas, como lembra Baudrillard (1973, p. 16), “a única coisa que nos dá conta do real não são as estruturas coerentes da técnica, mas as modalidades de incidência das práticas sobre as técnicas ou, mais exatamente, as modalidades de obstrução das técnicas pelas práticas”.
          Só por sua presença, os objetos técnicos não têm outro significado senão o paisagístico. Mas eles aí também estão em disponibilidade, à espera de um conteúdo social. Marx já dizia que “a economia política não é a tecnologia” (Grundrisse, Caderno M.). Se o homem, por seu trabalho –– enquanto produtor, residente ou ocupante ocasional ­­–– não transmite vida à coisa, essa vida da qual somente ele é detentor, o objeto permanecerá sempre como tecnologia, e não como economia, assim como as forças materiais naturais não se tornam produtivas senão pelo trabalho humano, no dizer de Jakubowsky (1971, p. 60), o mesmo se passa com as forças materiais sociais , criadas um dia pelo homem mediante o processo da produção, presente ou passada .
          É a sociedade, isto é, o homem, que anima as forças espaciais, atribuindo-lhes um conteúdo, uma vida. Só a vida é passível desse processo infinito que vai do passado ao futuro, só ela tem o poder de tudo transformar amplamente, é capaz de um movimento próprio, mas não pode participar de nenhum movimento contraditório, de nenhuma dialética.
          Uma casa vazia ou um terreno baldio, um lago, uma floresta, uma montanha não participam do processo dialético se não porque lhes são atribuídos determinados valores, isto é, quando são transformados em espaço. O simples fato de existirem como formas, isto é, como paisagem, não basta. A forma já utilizada é coisa diferente, pois seu conteúdo é social. Ela se torna espaço, porque forma - conteúdo.
         Quando a sociedade age sobre o espaço, ela não o faz sobre os objetos como realidade física, mas como realidade social, formas-conteúdo, isto é, objetos sociais já valorizados aos quais ela (a sociedade) buscar oferecer ou impor um novo valor. A ação se dá sobre objetos já agidos, isto é, portadores de ações já concluídas, mas ainda presentes. Esses objetos de ação são, desse modo, dotados de uma presença humana e por ela qualificados.
         Em cada momento, em uma análise, a sociedade está agindo sobre ela própria, e jamais sobre a materialidade exclusiva. A dialética, pois, não é entre sociedade e paisagem, mas entre sociedade e espaço. E vice – versa.

Relação Sociedade-Natureza: do Meio Natural ao Meio Técnico-científico e Informacional

A PAISAGEM NA GEOGRAFIA
         É comum encontrar pessoas que pensam que saber Geografia é aprender muitos dados, saber qual é população de todas as cidades do mundo e poder citar e localizar todos os novos Estados africanos. Algumas pessoas acham que a Geografia tem a ver com os mapas e também com a descrição de viagens pelo mundo.
        Cada uma dessas crenças populares tem algo de verdadeiro. A localização, os dados e os mapas são recursos que a Geografia utiliza, recursos esses que geram a habilidade de “olhar geograficamente ”, isto é, a capacidade de observar e interpretar os distintos processos naturais e sociais, tanto diretamente na realidade, como por meio de mapas, fotos aéreas, imagens de satélites e outras representações do mundo real.
        A observação e a interpretação da fisionomia da paisagem - que é a porção do lugar que a vista alcança - faz parte da essência do saber da Geografia.
Olhar e pensar sobre o que está presente em cada rua de sua cidade, em cada campo plantado, em cada montanha ou floresta pode ajudar a compreender como natureza e a sociedade se combinam para moldar as diferentes formas que existem na superfície da Terra.
        A noção de paisagem, para a Geografia, não deve ser confundida com a do paisagismo, que está ligada a uma concepção de estética na distribuição de objetos em um jardim ou um parque. Para a ciência geográfica, a paisagem deve ser entendida como indicadora de conteúdo vivo e de processos dinâmicos, isto é, em constante transformação.
        A interpretação da paisagem para a Geografia é a busca da explicação científica de como as formas que observamos são o resultado visível da combinação de processos físicos, biológicos e humanos ou antrópicos (do grego antropos = homem). Percebida por intermédio de uma visão científica, a paisagem ganha uma abordagem com características próprias de um método de pesquisa. Assim, o estudo da paisagem se constitui num dos mais antigos métodos de estudo pertencentes à Geografia.
         Em cada lugar da superfície terrestre, as condições de vida são o resultado de uma interação dos distintos elementos naturais, trabalhados pela atividade humana, com maior ou menor intensidade. Mesmo na Antártida, onde as condições inóspitas de clima dificultam o estabelecimento permanente do homem, as marcas de sua atividade estão presentes no buraco da camada de ozônio que altera as condições naturais do continente gelado.
        Porém, independentemente da ação humana, podemos afirmar que as paisagens são também produtos das mais diversas combinações de fenômenos naturais, que apresentam sua própria diversidade, a exemplo do relevo, que aparece em distintas formas e dimensões. Essas formas diferentes de relevo contribuem para criar diferentes paisagens de montanhas ou planaltos.
        Por sua vez, as condições climáticas são determinantes para a diversidade das formações vegetais e para o processo de formação dos solos. O clima também está presente nos distintos agentes de erosão, a exemplo das chuvas ou do vento.
        Por isso, também é responsável pela modelagem do relevo. Assim, os diferentes processos físicos e biológicos interagem mutuamente na formação do que se chama substrato natural da paisagem.
        Por causa das atividades humanas, a paisagem natural vai sofrendo múltiplas modificações no decorrer do tempo, transformando-se numa paisagem humanizada, pela incorporação de elementos culturais.
       De acordo com a atividade predominante da população de um lugar, vão se estruturando paisagens de diferentes características, segundo os graus de transformação dos elementos naturais, e conforme a intensidade e a orientação da atividade humana. Desse modo, podemos diferenciar paisagens agrícolas, minerais, industriais e urbanas.
      O maior impacto das atividades humanas está presente na paisagem urbana, que é o produto de atividades ligadas à indústria, ao comércio e ao serviço. Isso mostra que a paisagem não é dada para todo o sempre, mas que é objeto de mudança permanente.