sábado, 21 de novembro de 2009

Guerra das Malvinas Guerra entre argentinos e ingleses no Atlântico Sul

A polêmica sobre a Usina de Itaipu

sábado, 14 de novembro de 2009

Chávez lidera nacionalização de empresa americana do setor de petróleo

colaboração da Folha Online
21/05/2009

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, liderou nesta quinta-feira o ato em que o Estado assumiu o controle da instalação americana especializada em compressão de gás Pigap 2, no leste do país, como parte da política de nacionalizar o setor auxiliar à indústria petrolífera.

A empresa desapropriada pertencia ao grupo Williams Companies Inc., que, segundo porta-vozes oficiais, será indenizado e seus trabalhadores não perderão os empregos.

"Trata-se de reverter o nefasto processo de privatização que empreendeu a velha PDVSA [estatal de petróleo venezuelana.]", disse Chávez.

O complexo Pigap 2 fica no Estado de Monagas, 580 km a sudeste de Caracas, e tem capacidade de injeção de 1,5 bilhão de pés cúbicos de gás, que permitem a extração de 167 mil barris diários de petróleo. Não foi informado o valor da indenização paga ao grupo Williams.

"Estamos liberando essa terra e o subsolo. É uma nova etapa de um compromisso cada dia maior com a pátria", afirmou o presidente.

A injeção de gás é uma técnica destinada a fazer com que os poços mantenham a pressão interna e, assim, se possa extrair o máximo de petróleo possível.

No início deste mês, Chávez anunciou que iria expropriar dezenas de empresas do setor petroleiro, depois que a Assembleia do país aprovou uma lei que reserva ao Estado "os bens e serviços ligados às atividades primárias de hidrocarbonetos".

A lei tramitou em menos de uma semana e ampliou o processo de estatização do setor petroleiro iniciado por Chávez, que já implantara o monopólio da PDVSA na exploração e comercialização. A legislação veta às empresas qualquer recurso à arbitragem internacional. Elas só podem recorrer à Justiça venezuelana, fortemente influenciada pelo governo.

Várias das empresas alvo da nacionalização enfrentam problemas de caixa devido aos atrasos de pagamento da PDVSA --algumas não recebem desde setembro. A estatal vem sofrendo com a queda do preço do petróleo, agravada pela transferência de grande parte de seu faturamento para o financiamento dos programas sociais do governo Chávez.

Com Efe e Folha de S.Paulo

Petrobras participará de investimentos de até US$ 1 bilhão


Julio Cruz Neto
Enviado especial
18/12/2007
La Paz (Bolívia) - A Petrobras vai retomar os investimentos no gás natural boliviano. Acordo firmado hoje (17), em La Paz, prevê aporte de US$ 750 milhões a US$ 1 bilhão da empresa e de seus sócios na exploração e no desenvolvimento de reservas em três campos da estatal local, a Yacimientos Petroliferos Fiscales Bolivianos (YPFB). A maior parte poderá ser vendida a preços superiores aos praticados na Bolívia.

O presidente da estatal brasileira, José Sérgio Gabrielli, explicou que o acerto foi feito da seguinte forma: para os projetos futuros, a Petrobras se compromete a vender 18% da produção para o mercado interno, o que implica um preço de cerca de US$ 1 por milhão de BTU, segundo as leis locais. Acima disso, segundo ele, o valor pode ser "diferenciado".

O preço no mercado internacional é bem mais alto. A Argentina, por exemplo, chega a pagar cerca de US$ 5 por milhão de BTU.

Mas a forma como o dinheiro será investido é incerta, vai depender do resultado das explorações, disse Gabrielli. De concreto, por enquanto, há US$ 260 milhões para aumentar a produção dos campos de San Antonio e San Alberto e US$ 36 milhões para iniciar perfurações em Ingre.

O restante vai depender de "resultados exploratórios, análises específicas de cada campo, que podem ocorrer dentro desse volume [de até US$ 1 bilhão]", segundo o presidente da Petrobras.

Quanto ao aumento que será gerado na produção de gás no país vizinho, Gabrielli afirmou que é provável que seja de 8 milhões de metros cúbicos por dia. "Mas não posso afirmar", ponderou.

O presidente da Petrobras afirmou que não vê risco no novo empreendimento por causa dos desentendimentos ocorridos quando a Bolívia nacionalizou os recursos naturais e ocupou refinarias. "Evidentemente que as mudanças no ambiente regulatório boliviano tiveram negociações bastante duras, mas no âmbito das condições regulamentares existentes, por isso não acreditamos que haja algum risco em relação ao que já aconteceu."

Ele negou que haja qualquer ressentimento: "Nessas relações, não há por que ter ressentimento. Você discute condições legais, econômicas e políticas. Não são questões pessoais".

No âmbito do acordo energético, a Petrobras se compromete a pagar US$ 100 milhões a US$ 180 milhões a mais pelos gases líquidos (nobres) contidos no gás natural importado da Bolívia desde maio de 2007.

Bolívia: aonde vai Evo Morales?

Marcus Kollbrunner - 05 de abril de 2006

Com 54% dos votos, Evo Morales, líder do MAS (Movimiento al Socialismo) e dos cocaleros da região do Chapare, foi o primeiro indígena a ser eleito presidente da Bolívia. A ampla margem de vitória é uma mostra do rechaço das políticas neoliberais implementadas no país desde 1985. A vitória de Evo Morales foi também baseada no movimento de massas que derrubou dois presidentes, Lozada em 2003 e Mesa em 2005, exigindo a nacionalização do gás e do petróleo do país.

O MAS conseguiu obter a maioria absoluta na Câmara Baixa e quase obteve a maioria no Senado. O MAS elegeu também 3 dos 9 governadores e ganhou em todas as grandes cidades menos em Santa Cruz.

Dúvidas nos movimentos sociais

Ao mesmo tempo em que Evo Morales obteve um grande apoio popular existem grandes dúvidas nos movimentos sociais sobre se ele vai cumprir suas promessas, por causa da sua trajetória na luta dos últimos anos.

A COB (a central operária) deu ao novo presidente três meses para implementar uma verdadeira nacionalização do gás e o petróleo, caso contrário irão recomeçar com as mobilizações.

Durante a campanha eleitoral Morales prometeu que o salário mínimo seria triplicado, saltando de 60 dólares (480 bolivianos) para 185 dólares (1,5 mil bolivianos). Mas hoje ele não reconhece essa promessa e oferece um aumento de apenas 6 dólares!

Os sindicatos dos professores também estão descontentes com o reajuste de salário de apenas 7%, dos quais a metade some com a inflação. Os professores ganham apenas 600 bolivianos por mês e o aumento só será suficiente para meio litro de leite a mais por dia.

Em El Alto , cidade vizinha a La Paz que possui uma população trabalhadora e pobre, 88% dos eleitores votaram no MAS nessas eleições. A cidade foi o foco principal das lutas dos últimos anos. Mas agora a FEJUVE (Federação das Juntas de Vizinhos de El Alto) declarou o "fim da trégua" com o governo, informa o jornal El Diario.

A organização, que exige a nacionalização dos hidrocarbonetos, esta discutindo a preparação de lutas em torno de temas como as altíssimas tarifas de eletricidade e a falta de conexões de gás.

O foco da luta dos últimos anos tem sido sobre o controle dos hidrocarbonetos, o gás e o petróleo. A Bolívia tem a segunda maior reserva do gás do continente, depois da Venezuela, com um valor estimado em cem bilhões de dólares. A luta por esses recursos é vista como decisiva para retirar da pobreza os 6 milhões de bolivianos que vivem nessas condições numa população total de 9 milhões.

Durante os governos neoliberais as empresas multinacionais tiveram fácil acesso para explorar as riquezas do país. Os impostos sobre a exploração dos hidrocarbonetos foram rebaixados de 50 para 18%. A maior empresa estrangeira no país é a Petrobrás, que controla 46% das reservas de gás na Bolívia. Só as atividades da Petrobrás correspondem a 18% do PIB boliviano.

Nacionalização dos hidrocarbonetos

Mas Morales já deixou claro que a "nacionalização" dos hidrocarbonetos que ele vai implementar será somente simbólica.

"Não haverá nem confisco nem expropriação", foi a mensagem repetida pelo Evo Morales para acalmar os capitalistas nas visitas que fez à Espanha, França, Argentina, Brasil etc.

A nacionalização de Evo Morales limita-se a declarar que os recursos naturais são propriedade nacional, mas que as atividades de exploração, refinamento e exportação ainda serão realizadas por empresas estrangeiras, que apenas terão que pagar um imposto mais alto, de 50%.

A exploração de gás e petróleo no país ainda será uma das mais baratas no mundo. A Petrobrás vai continuar a fazer grandes investimentos no país. Nos últimos 10 anos a Petrobrás investiu 1,5 bilhão de dólares na Bolívia e tem planos para investir mais 5 bilhões.

Calcula-se que o aumento de impostos fornecerá entre 100 a 200 milhões de dólares a mais por ano para o Estado boliviano, o que é insuficiente para fazer algo contra a enorme pobreza que atinge principalmente a maioria indígena no país.

Evo Morales tem nas suas viagens defendido o direito das empresas de "obterem lucros" desde que haja um "equilíbrio" com os benefícios para o Estado. "Queremos sócios, não patrões", diz ele dando a impressão que existe um outro capitalismo com face humana.

Espanha agradecida

Ele também enfatizou o "papel fundamental" dos investimentos espanhóis na Bolívia quando falou num almoço com a entidade empresarial espanhola. O governo espanhol recompensou Morales prometendo perdoar grande parte da dívida que a Bolívia tem com a Espanha.

Evo Morales também fechou um acordo com a Confederación de Empresarios Privados de Bolivia (CEPB), prometendo "manter a estabilidade macroeconômica e a credibilidade internacional do país", segundo El Diario. Evo Morales declarou recentemente: "é importante fazer negócios e peço aos empresários que me apóiem com suas experiências. Se o melhor é a ALCA, o MERCOSUL, CAM ou acordos com China, Estados Unidos, temos que estudar os benefícios para o país".

Um outro assunto que já criou polêmica é o plano do Evo Morales de convocar uma Assembléia Constituinte. As eleições para a Constituinte serão no dia 2 de julho e ela deve reunir-se em 6 de agosto. Mas os movimentos sociais não estão satisfeitos com a composição da Constituinte e querem que ela tenha uma maioria indígena e dos movimentos.

Outra demanda importante é de uma reforma agrária. A COB levanta a necessidade de expropriar os 25 milhões de hectares que estão nas mãos de uma centena de famílias de latifundiários, que tem cinco vezes mais terra que dois milhões de camponeses. Mas a política de Evo Morales não é de entrar em confronto com os latifundiários, somente abrir para uma nova colonização. Evo Morales também deu aval, até antes da posse, à privatização do MUTUN, uma das maiores explorações minerais do mundo.

O papel de Morales

O papel de Morales nos últimos anos foi de ser a ala moderada do movimento, sempre apontando para uma saída constitucional para os conflitos. Durante a "guerra do gás" em outubro 2003 que derrubou o Sánchez de Lozada, ele estava fora do país. Quando voltou deu apoio ao vice de Lozada, Carlos Mesa, que assumiu a presidência.

Mesa chamou um referendo sobre os hidrocarbonetos em 2004, com perguntas ambíguas, para evitar respostas claras sobre a questão da estatização, o que permitiria que o controle do gás e o petróleo ficasse nas mão das multinacionais, em troca de um pequeno aumento dos impostos. Evo Morales deu apoio ao referendo, quando os movimentos chamavam pelo boicote, e por isso ele foi expulso da COB.

No movimento de maio e junho de 2005, que acabou derrubando Mesa, foi colocado de novo a questão da nacionalização, enquanto Morales dava apoio à nova Lei dos Hidrocarbonetos de Mesa, mas com um maior aumento do novo imposto. Morales também deu apoio ao novo presidente interino, o presidente do Supremo Tribunal, quando o movimento estava discutindo a necessidade de acabar com o parlamento corrupto.

"Capitalismo andino-amazônico"

O vice presidente do Evo Morales, um suposto intelectual marxista e o ideólogo do governo, fala que a política do governo visa construir um "capitalismo andino-amazônico".

O próprio Morales fala de um "socialismo de micro escala" organizado com o engajamento da sociedade camponesa. Mas sem um controle das grandes empresas industriais, do qual o setor petrolífero é o mais importante do país, não será possível usar os recursos do país para erradicar a pobreza.

Existe nos movimentos sociais, como a COB, o sindicato dos mineiros, a FEJUVE, etc, uma discussão sobre a necessidade de ruptura com o sistema capitalista. Mas falta ainda uma expressão política mais clara para esse movimento que possa desafiar o sistema. No final das contas Evo Morales conseguiu sempre desviar o movimento e ganhou o apoio da grande maioria da base desses movimentos nas eleições.

Os movimentos se reuniram no dia 10 de dezembro em El Alto numa "Cúpula Nacional Operária Popular". Na declaração desse encontro se diz que as eleições foram chamadas para desarticular a luta dos explorados e que as eleições não vão resolver nada. A declaração chama para uma Assembléia Nacional Popular Originária em oposição do projeto de Constituinte do Morales que eles dizem que servirá para proteger o sistema e os interesses das multinacionais. Eles convocam essa Assembléia Nacional Popular Originária para dia 10 de abril. A declaração também levanta a necessidade de um governo operário-camponês, junto com a nacionalização sem indenização dos hidrocarbonetos, reestatização das empresas privatizadas etc.

Construir uma alternativa

É preciso avaliar com cuidado qual deve ser a tática correta diante da Constituinte de Morales. Não é provável que haverá uma ruptura de massas tão cedo com o regime de Morales, que ainda vai ser visto com esperança pelas massas. Morales tem tomado medidas que serão populares, como a de baixar o seu salário presidencial em 57% ou de retirar os chefes de autoridades corruptas. Uma Constituinte que acabe com símbolos herdados da época colonial e que levante a identidade indígena, também terá apoio.

O que ainda falta é uma expressão política na forma de um partido socialista e revolucionário, que possa disputar a hegemonia com o MAS. Um partido dotado de um programa e estratégia revolucionários e que consigam construir uma ponte entre as lutas concretas de hoje na Bolívia e a necessidade de uma transformação socialista.

Evo Morales decreta nacionalização das reservas de gás e petróleo da Bolívia

Daniel Merli e Yara Aquino - Agência Brasil
Terça-feira - 02/05/2006 - 10h02
Brasília - "Considerando que, em históricas jornadas, o povo conquistou a custo de sangue o direito às nossas riquezas em hidrocarbonetos", o presidente Evo Morales determinou ontem (1º) a nacionalização das reservas de petróleo e gás da Bolívia. O decreto se baseia na decisão do referendo de julho de 2004, em que a população decidiu a favor de que o Estado recuperasse a propriedade de suas reservas. Na década de 1990, as reservas do país foram privatizadas pelo então presidente Hugo Banzer, ex-ditador militar que foi eleito presidente após sua ditadura. Três empresas venceram essa privatização: a britânica BP, a espanhola Repsol e a estatal brasileira Petrobras.
O decreto de hoje define que o "Estado recupera a propriedade, a posse e o controle total e absoluto desses recursos". Com a decisão, todo o petróleo e gás explorado no país deve ser repassado para a estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB). A YPFB será responsável pela comercialização do produto, "definindo condições, volume e preços, tanto no mercado interno como para exportação". O governo boliviano dá 180 dias para que as empresas instaladas no país adaptem-se às novas medidas.

Como um dos argumentos para decretar a nacionalização, Evo lembra que a Bolívia foi o "primeiro país do continente a nacionalizar os seus hidrocarbonetos em 1937". Na época, a companhia norte-americana Standart Oil era dona de poços no país. Em 1969, o governo boliviano realizou sua segunda nacionalização, desta vez contra a empresa Gulf Oil. Por isso, Evo considera que esta será a "terceira e definitiva nacionalização".

O decreto define que devem ir para o Estado 82% dos valores arrecadados com a venda do produto. O restante, 18%, irá para as empresas. Com a nova medida há uma inversão de porcentagens, segundo Pablo Solón, diretor do Fundação Solón, uma das organizações da sociedade civil que foi responsável pelas mobilizações pela nova lei de petróleo e gás. Antes, o Estado ficava com 18% e as empresas com 82%, afirmou em entrevista por telefone à Agência Brasil.

Colaborou Carolina Pimentel

Do Acre aos Andes (XII)

O fim do ciclo da borracha não livrou os povos Antis da necessidade de defender seus territórios tradicionais. Pelo contrário, o século XX foi repleto de novas ameaças contra esses povos milenares.
Depois de um longo mês de intervalo, retomamos a série de artigos que traça uma breve síntese da milenar resistência dos povos Antis da região da floresta amazônica na montaña peruana e nas terras baixas de lá e de cá.*

Farc-EP

Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército do Povo

FARC: 40 anos de História

Direto das selvas da Colômbia, correspondente brasileiro analisa a insurgência mais antiga da América. Por Yuri Martins Fontes, para a revista Reportagem*

HERÓIS OU BANDIDOS?

Farc

Click aqui: As FARC

As FARC resistem bem a uma ambiciosa ofensiva que visa a sua destruição

por Miguel Urbano Rodrigues

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Túpac Amaru: a Serpente Resplandecente




9 de novembro de 2007

Revolucionário peruano liderou uma das maiores insurgências indígenas da história da América Latina
Por Vinicius Mansur
Quando os espanhóis chegaram na América, o Império Inca estava no auge, estendendo-se sobre o que hoje chamamos de Peru, Bolívia e Equador, parte da Colômbia e do Chile, indo até o norte da Argentina e abarcando um pedaço da floresta amazônica brasileira. Monumentos religiosos levantados com maior sabedoria do que as pirâmides egípcias, técnicas próprias e avançadas e belas criações artísticas são alguns exemplos do legado inca. Mas o ataque espanhol destruiu as bases desta civilização.
Conseqüências piores do que a violência da guerra imperialista teve a organização da economia mineira para extração de ouro e prata. O deslocamento de grandes contingentes para as minas desarticulou as unidades agrícolas comunitárias, abalando o sistema coletivo de cultivos, e submeteu os índios à servidão extinguindo inúmeras vidas por meio do trabalho árduo e doenças. Enormes cultivos de milho, mandioca, feijão e batata-doce sumiram. Grandes extensões de terras, trabalhadas há anos pelo sistema incaico de irrigação, foram tomadas pelo deserto.
Neste contexto, onde os índios eram “o combustível do sistema produtivo”, como diz o antropólogo Darcy Ribeiro, a esperança de reconquistar a autonomia surgiu na figura do revolucionário peruano José Gabriel Condorcanqui. O cacique mestiço de Surimaná, Tungasuca e Pampamarca era bisneto de Juana Pilco-Huaco, filha do último soberano inca, o Túpac Amaru I, executado pelos espanhóis em 1572, e de quem adotou o nome - que significa "Serpente Resplandecente" em quéchua. A morte de Túpac Amaru I significou o início da invasão espanhola nos Andes, onde a resistência durava quarenta anos.
Túpac Amaru, o segundo, adotou o nome de seu ancestral para simbolizar sua disposição à resistência e para liderar uma das maiores insurgências da América Latina. Em 1780, na província de Tinta, montado em seu cavalo branco, Túpac, junto com um conjunto de rebelados, tomou a praça de Tugasuca. Lá, condenou à forca o representante da realeza espanhola Antonio Juan de Arriga, após ler um documento que denunciava seus abusos cometidos contra os indígenas; e proibiu o trabalho servil nas minas de Potosí, na Bolívia. Poucos dias depois Túpac Amaru expediu um comunicado decretando a liberdade dos escravos e abolindo todos os impostos.
A esta altura os indígenas se juntavam aos milhares e Túpac Amaru mandava emissários por todo Peru para expandir o processo de insurgência. Negros e mestiços também se incorporaram à luta. Ele era um líder revolucionário messiânico que se apresentava como restaurador e legítimo herdeiro da dinastia inca. Porém, a Igreja o repudiou e combateu diretamente a luta revolucionária, dando apoio às tropas dos espanhóis.
Túpac Amaru seguia em marcha pregando seu credo: todos os que morressem nesta guerra ressuscitariam para desfrutar as felicidades e riquezas que haviam sido roubadas pelos invasores. No percurso libertavam escravos e tomavam terras dos latifundiários a serem distribuídas entre as famílias pobres.
Quando seguiam em marcha em direção à Cuzco, os tupamaristas foram fortemente atacados pelas tropas oficiais, que possuíam muito mais armamentos. Os revolucionários mudaram o rumo da caminhada, mas foram vítimas de uma emboscada. Túpac foi vencido na batalha de Checacupe, em 1781, depois de ser traído e capturado por um dos integrantes de sua tropa. Os principais chefes da rebelião foram condenados à pena de morte por enforcamento ou estrangulamento. Túpac Amaru foi preso e levado à Cuzco. Quando lhe foi cobrado os nomes dos cúmplices da rebelião, Túpac respondeu a seu carrasco: “Aqui não há mais cúmplices que tu e eu; tu por opressor, e eu por libertador, merecemos a morte”.
Túpac, sua esposa, seus filhos e seus principais partidários foram torturados na praça de Wacaypata. Cortaram-lhe a língua e tentaram esquartejá-lo, amarrando seus braços e pernas em quatro cavalos. Mas o corpo não se partiu. Ele morreu decapitado na forca. Por representar tamanho perigo ao imperialismo espanhol, sua morte foi amplamente divulgada, e partes de seu corpo foram enviadas à diferentes cidades. Recomendou-se que sua descendência fosse extinta até a quarta geração.
Até hoje não se sabe exatamente como era o rosto do líder revolucionário, mas diversas obras retratam sua história, que ainda perdura e inspira a luta contra o avassalamento dos direitos indígenas em toda a América Latina.

Movimento Revolucionário Túpac Amaru

Movimento Revolucionário Túpac Amaru
O grupo guerrilheiro Túpac Amaru, se define como uma organização político-militar, integrada pela classe operária, pelos explorados e oprimidos do Perú, cuja a ideologia é o Marxismo-Leninismo, tendo como objetivo organizar e dirigir a "Guerra Revolucionária do Povo", para derrotar o Governo legal, estabelecendo um "Poder Popular", que conduza à edificação do Socialismo. O embrião desta organização teve seu início em 23 de novembro de 1976, quando o general do Exército Peruano, Leonidas Rodríguez Figueroa (que se encontrava exilado) funda o Partido Socialista Revolucionário (PSR), agrupando nesta organização, entre outros, ex-colaboradores do governo do general Juan Velasco Alvarado. O PSR participa do processo eleitoral para a Assembléia Constituinte, mas problemas ocorrem perante este acontecimento de "atitude eleitoreira" produzindo um rompimento em seu interior, dando origem ao PSR-ML (Partido Socialista Revolcuionário - Marxista Leninista) com dirigentes da cúpula e incluso três constituintes, organização que logo seria uma das vertentes que dariam origem ao MRTA. O MIR-VR (Movimiento de Izquierda Revolucionario - Voz Rebelde), o MIR -Norte (chamado assim por ter sua base principal em Trujillo) e o MIR-EM (Movimiento de Izquierda Revolucionario - El Militante), surgem em 1973, logo após o rompimento do MIR - Histórico. Em 1977, constituem, juntamente com outros agrupamentos de esquerda, a UDP (Unidade Democrática Popular). Em setembro de 1980, participam da constitução da Izquierda Unida (IU), produzindo-se lutas internas em 1982, recompondo-se entre os anos de 1983 e 1984. Em 1978, o MIR-EM, participa do processo eleitoral para a Assembléia Constituinte, retirando-se para formar com o PSR-ML, o PCP -Maioria, a denominada "Frente Revolucionária de Ação Socialista" (FRAS). Em 01 de março de 1982, essa Unidade adota o nome de "Movimento Revolucionário Túpac Amaru", adotando a sigla "MRTA". A organização se manteve na clandestinidade, iniciando suas primeiras ações em 1984, consistindo em expropriações de bancos e ataques a militares. Em 09 de dezembro de 1986, se constitui uma nova unidade, no evento denominado "I Comitê Central Unitário", entre o MRTA e o MIR-VR, concordando em manter o nome do MRTA, com o qual continuaram as ações revolucionárias. Seu órgão de divulgação clandestino era o impresso entitulado "Venceremos", que em 1987 mudou para "Voz Rebelde" e também a rádio "4 de Noviembro". Ademais, contava com o semanário "Cambio" como meio de difusão aberto e como órgãos de fachada tinham as organizações "Pueblo en Marcha", "UDP", "Bloque Popular Revolucionario" e "Patria Libre". O grupo tornou-se mundialmente famoso com a ocupação da embaixada japonesa em Lima (Dezembro de 1996-Abril de 1997), em que reteram centenas de importantes políticos. Os 14 membros do comando foram mortos pela polícia peruana do presidente Fujimori; todos os políticos retidos foram libertados. Na atualidade o nível de direção, devido à captura de seus principais líderes, não conta com uma estrutura de apoio ou estrutura organizativa (aparato logístico, comunicações, imprensa, etc.) e sua força especial (aparato armado) tem sido desarticulada. Não existindo indicativos da presença do MRTA no âmbito peruano, a provável reorganização está sendo estruturada no estrangeiro (Alemanha), através de seu porta-voz internacional, Isaac Cecilio Velasco Fuerte, que emite através da Internet eventuais pronunciamentos.

Clic aqui: Aos que lutam e aos que choram: Viva a revolução bolivariana!

Para nós do Partido Comunista Marxista Leninista (Brasil), o processo vivido nestes dois anos de governo de Evo Morales é mais uma porta que se abre à liberdade, à igualdade, à justiça reclamada, à independência contida, ao resgate da dignidade usurpada e direitos pisoteados daqueles que com seu sangue irrigaram nossa América e desde a conquista colonial não se entregaram e ao invés de chorar lutaram - como escreveu Jorge Masseti, argentino que ao entrevistar Fidel, Raul e Guevara, ainda em Sierra Maestra, durante a guerrilha de libertação definitiva de Cuba.

Clic aqui: A RESISTÊNCIA DE TÚPAC AMARO







MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO TÚPAC AMARU

O Movimento Revolucionário Túpac Amaru, em castelhano Movimiento Revolucionario Túpac Amaru é um grupo guerrilheiro peruano, fundado em 1984, inspirado em outras guerrilhas de esquerda de países da região.
O grupo guerrilheiro
Túpac Amaru, se define como uma organização político-militar, integrada pela classe operária, pelos explorados e oprimidos do Peru, cuja a ideologia é o Marxismo-Leninismo, tendo como objetivo organizar e dirigir a "Guerra Revolucionária do Povo", para derrotar o Governo legal, estabelecendo um "Poder Popular", que conduza à edificação do Socialismo.
O embrião desta organização teve seu início em 23 de novembro de
1976, quando o general do Exército Peruano, Leonidas Rodríguez Figueroa (que se encontrava exilado) funda o Partido Socialista Revolucionário (PSR), agrupando nesta organização, entre outros, ex-colaboradores do governo do general Juan Velasco Alvarado. O PSR participa do processo eleitoral para a Assembléia Constituinte, mas problemas ocorrem perante este acontecimento de "atitude eleitoreira" produzindo um rompimento em seu interior, dando origem ao PSR-ML (Partido Socialista Revolcuionário - Marxista Leninista) com dirigentes da cúpula e incluso três constituintes, organização que logo seria uma das vertentes que dariam origem ao MRTA.
O MIR-VR (Movimiento de Izquierda Revolucionario - Voz Rebelde), o MIR -Norte (chamado assim por ter sua base principal em Trujillo) e o MIR-EM (Movimiento de Izquierda Revolucionario - El Militante), surgem em
1973, logo após o rompimento do MIR - Histórico. Em 1977, constituem, juntamente com outros agrupamentos de esquerda, a UDP (Unidade Democrática Popular). Em setembro de 1980, participam da constitução da Izquierda Unida (IU), produzindo-se lutas internas em 1982, recompondo-se entre os anos de 1983 e 1984.
Em
1978, o MIR-EM, participa do processo eleitoral para a Assembléia Constituinte, retirando-se para formar com o PSR-ML, o PCP -Maioria, a denominada "Frente Revolucionária de Ação Socialista" (FRAS). Em 1 de março de 1982, essa Unidade adota o nome de "Movimento Revolucionário Túpac Amaru", adotando a sigla "MRTA". A organização se manteve na clandestinidade, iniciando suas primeiras ações em 1984, consistindo em expropriações de bancos e ataques a militares. Em 9 de dezembro de 1986, se constitui uma nova unidade, no evento denominado "I Comitê Central Unitário", entre o MRTA e o MIR-VR, concordando em manter o nome do MRTA, com o qual continuaram as ações revolucionárias.
Seu órgão de divulgação clandestino era o impresso intitulado "Venceremos", que em
1987 mudou para "Voz Rebelde" e também a rádio "4 de Noviembro". Ademais, contava com o semanário "Cambio" como meio de difusão aberto e como órgãos de fachada tinham as organizações "Pueblo en Marcha", "UDP", "Bloque Popular Revolucionario" e "Patria Libre".
O grupo tornou-se mundialmente famoso com a ocupação da embaixada japonesa em Lima (Dezembro de
1996 - Abril de 1997), em que retiveram centenas de importantes políticos. Os 14 membros do comando foram mortos pela polícia peruana do presidente Alberto Fujimori; todos os políticos retidos foram libertados.
Na atualidade o nível de direção, devido à captura de seus principais líderes, não conta com uma estrutura de apoio ou estrutura organizativa (aparato logístico, comunicações, imprensa, etc.) e sua força especial (aparato armado) tem sido desarticulada. Não existindo indicativos da presença do MRTA no âmbito peruano, a provável reorganização está sendo estruturada no estrangeiro (
Alemanha), através de seu porta-voz internacional, Isaac Cecilio Velasco Fuerte, que emite através da Internet eventuais pronunciamentos.

TÚPAC AMARU




A instalação do sistema colonial hispânico na América foi marcada por um processo massivo de eliminação de boa parte das populações indígenas que aqui viviam. No entanto, conforme assinalado pelo poeta chileno Pablo Neruda, a “cruz”, a “espada” e a “fome” não foram suficientes para encerrar as resistências da população indígena frente ao colonizador espanhol. No século XVIII, a infiltração das idéias iluministas e liberais só vieram a potencializar essa relação de conflito entre índios e espanhóis. Ao mesmo tempo, não podemos criar uma idéia absoluta de que toda a população indígena era radicalmente contra o processo de dominação espanhola. Para ampliar a mão-de-obra disponível, muitos colonizadores empreendiam acordos com as lideranças indígenas locais. Os chamados caciques ou curacas, líderes máximos das comunidades indígenas, eram acionados pelos espanhóis para garantir a dominação sobre uma determinada população nativa. Em troca do apoio ao colonizador espanhol, o curaca recebia parte dos impostos arrecadados ou a não obrigação do trabalho compulsório impostos pelos espanhóis. Dessa forma, os colonizadores vislumbravam manter as estruturas da dominação colonial sem a necessidade de empreender uma desgastante luta, que na verdade ia contra os interesses coloniais ao exigir gastos na organização de tropas ou na própria diminuição da mão-de-obra disponível. No entanto, no ano de 1780, um líder curaca chamado José Gabriel Condorcanqui se indispôs aos interesses das elites metropolitanas. Dizendo ser descendente do lendário líder inca Túpac Amaru, conhecido por resistir ao início da dominação espanhola na América, Condorcanqui liderou uma insurreição indígena no Peru. Sendo uma grande exceção entre as populações indígenas da região, Condorcanqui estudou na Universidade de São Marcos (Lima, Peru) e lá teve contato com a história de Túpac Amaru e com ideais do pensamento iluminista. Inspirado por essas idéias, Condorcanqui mudou seu nome para Túpac Amaru II e organizou um movimento emancipacionista que contou com o apoio da elite criolla. A rebelião começou em 1780, com a execução de um dos chefes espanhóis da administração colonial. Em pouco tempo, milhares de mestiços, indígenas, escravos e colonos empobrecidos decidiram não mais obedecer às exigências e tributos da Coroa Espanhola. A popularização dos ideais da rebelião Túpac Amaru começava a representar uma ameaça real aos interesses das elites criollas. Com isso, o movimento acabou se desintegrando e perdendo sua articulação política. Túpac Amaru II foi preso e julgado pelas autoridades metropolitanas. Servindo de exemplo para as demais populações indígenas, Tupac teve a língua cortada e teve seu corpo arrastado por uma tropa de cavalos. Depois do episódio, outras lutas sangrentas resultaram na execução de 80 mil rebeldes.
Túpac Amaru, o filho do sol
No fim do século 18, Túpac Amaru liderou a maior rebelião indígena da América, que incendiou o coração dos Andes e inspirou revolucionários como Bolívar e Che Guevara
por Alessandro Meiguins
O mundo amanheceu ao contrário naquele dia em Tinta, um pequeno povoado no sul do vice-reino do Peru. Acostumada a ser explorada e maltratada pelas tropas do mandachuva local, o espanhol Antonio Arriaga, a população mal conseguia acreditar que era ele quem dava seus últimos suspiros, pendurado pelo pescoço na ponta de uma corda, em plena praça central do vilarejo. Ao seu lado, comandando a execução, estava José Gabriel Túpac Amaru. Vestido para a guerra, com o tradicional ornamento inca em forma de um sol dourado no peito, convocava aos berros índios, mestiços e negros para lutar contra a dominação espanhola. Naquele 4 de novembro de 1780, com o corpo de Arriaga balançando atrás de si, Túpac Amaru, descendente da linhagem imperial dos incas, declarou que não existiam mais impostos e que os escravos estavam livres. “Foi o início de uma rebelião que se espalharia pelos Andes e chegaria até os altiplanos bolivianos”, diz Julio Vera del Carpio, historiador da Casa da Cultura Peruana, em São Paulo. Quase 300 anos depois de os espanhóis desembarcarem na América, o filho do sol estava de volta.
Os espanhóis desembarcaram na América em 1492 ávidos por encontrar riquezas que financiassem seus navios, suas armas e sua nobreza. Quando chegaram ao
Peru, em 1527, e descobriram as minas de prata da região, não perderam tempo. Reuniram um exército sob o comando de Francisco Pizarro e trataram de eliminar todo aquele que pudesse afastá-los de seu objetivo. Por “todo aquele” entenda-se os incas, que habitavam desde as cordilheiras no Peru até os altiplanos bolivianos. Em 1532, os espanhóis iniciaram uma conquista rápida e implacável. Com a vantagem das armas de fogo e do duro aço espanhol, submeteram os guerreiros indígenas e suas lanças de cobre. Pizarro conquistou Cusco, a capital inca, e capturou e executou Atahualpa, seu imperador. Em seguida nomeou um novo ocupante para o trono: Manco Inca Yupanqui. Pouco tempo depois, no entanto, Manco Inca percebeu que estava sendo usado pelos espanhóis e fugiu de Cusco, iniciando uma revolta. A aventura durou pouco: os espanhóis mataram Manco Inca e seus sucessores. O último foco de resistência foi derrotado em 1572, com o enforcamento do derradeiro imperador inca, o primeiro Túpac Amaru (foram vários “Túpacs”). Foi o ponto final na civilização inca na América do Sul, “que ocupou um território maior que o do Império Romano”, diz Antonio Núnez Jiménez, no livro Nuestra América. A partir desse momento, seus mais de 3 milhões de habitantes tinham um novo senhor.
A primeira coisa que os novos donos do pedaço fizeram foi estabelecer a “mita” – o trabalho forçado nas minas de prata e mercúrio. “Os índios eram convocados pelos espanhóis, arrastados a pé através dos vales montanhosos e muitos morriam exauridos no caminho”, diz Carpio. “Quando chegavam, tinham um breve descanso e, um ou dois dias depois, entravam nos estreitos buracos na terra em busca dos metais. Poucos sobreviviam por muito tempo às longas jornadas de trabalho, que chegavam a uma semana inteira dentro das minas, sem direito a alimentos ou descanso.” A Igreja teve papel especial nessa história. Extremamente religiosos, os incas foram levados a crer que o rei da
Espanha substituíra seu imperador no lugar reservado ao representante divino na Terra. Servir ao rei era como trabalhar para o próprio Deus-sol e ao morrer nas minas de prata estavam salvando suas almas do inferno.
Segundo Carpio, nas províncias os corregedores (espécie de prefeitos) tinham toda a liberdade para matar quantos índios fossem necessários para que a extração de prata continuasse a todo vapor. No entanto, em 200 anos de dominação, os espanhóis não eliminaram completamente as lideranças indígenas. Pelo contrário, parte do controle sobre a população era feita com o consentimento e apoio desses líderes – chamados de curacas, descendentes da nobreza inca. Convertidos ao catolicismo, muitos, inclusive, recrutavam membros das tribos para o trabalho forçado nas minas.
Descendente do primeiro Túpac, José Gabriel Túpac Amaru era um dos líderes que discordavam dessa prática. Curaca de Pampamarca, Tungasuca e Surimana, morava na província de Tinta, a 100 quilômetros de Cusco. Túpac herdou de sua família 70 pares de mulas, com as quais transportava mercadorias através dos
Andes. No meio daquela região montanhosa, ter um par de mulas era como ter um caminhão. Túpac era próspero, respeitado e bem relacionado. Insatisfeito com o que via na região, defendia junto às autoridades espanholas uma reforma no sistema colonial. Aos tribunais de Lima encaminhara um pedido oficial em que pediu a eliminação do cargo do corregedor, substituindo-o por prefeitos eleitos nas províncias e povoados, e o fim da mita. Nada conseguiu. Aos poucos, passou a espalhar a idéia de rebelião. Em uma carta aberta à população, dizia que os corregedores faziam do sangue dos peruanos “sustento para sua vaidade”. Conseguiu a simpatia e apoio de alguns curacas, que se dispuseram a lutar.
Tinta foi apenas o primeiro alvo da revolta. Após matar
Arriaga, Túpac e seus homens percorreram povoados e vilas da região, prendendo e enforcando as autoridades espanholas que encontravam. Ficavam com seu dinheiro e armas e distribuíam seus bens entre a população. Túpac nomeou chefes locais e conseguiu que milhares de pessoas aderissem à sua tropa. Aterrorizado com a rapidez com que a revolta se espalhava, o bispo de Cusco, Juan Manuel de Moscoso y Peralta, enviou 1 500 soldados para eliminar o rebelde. Em 18 de novembro, no povoado de Sangarara, entre Cusco e Tinta, Túpac enfrentou o exército do rei com 6 mil homens sob seu comando. Em menos de um dia o inca cercou os soldados do bispo. Depois de intensos combates, o último grupo de espanhóis se refugiou na igreja do povoado, esperando que o indígena poupasse o local sagrado. Túpac não quis saber: invadiu a igreja e matou todos. Em represália, Moscoso y Peralta excomungou Túpac Amaru e seus seguidores. Essa era a maior desonra que alguém poderia sofrer na época. Tanto para católicos quanto para indígenas, a excomunhão significava que a pessoa estava distante de Deus. O efeito da punição logo se fez sentir. “Por conta disso, numerosos adeptos da causa tupamarista abandonaram suas fileiras ou deixaram de nelas ingressar”, afirma Kátia Baggio, historiadora da Universidade Federal de Minas Gerais.
Túpac se preparou para invadir Cusco. A estratégia era tomar Puno, que ficava entre Cusco e Potosí, para depois avançar sobre a capital. No entanto, após os eventos em Sangarara, o vice-rei do
Peru, Agustín de Jáuregui, resolveu pedir auxílio à Espanha. Se as tropas do rei Carlos III chegassem ao Peru, a rebelião não teria chance, por isso o inca adiantou seus planos. Cusco era uma verdadeira fortaleza. Cercada de grandes muralhas de pedra, a antiga capital do império inca tinha uma rígida planificação urbana em forma quadriculada, cujo desenho lembrava a forma de um puma. As tropas da cidade partiram em direção aos rebeldes, para conter sua chegada, enquanto mais soldados preparavam a defesa. Muitos curacas católicos, junto com suas tribos, se mostraram fiéis à Igreja e ao rei da Espanha, e ajudaram os europeus a montar uma estratégia para conter os rebeldes. O clima de agitação e expectativa diante da iminente invasão levou a cidade ao caos.
Em 28 de dezembro de 1780, Túpac chegou ao limite norte de Cusco, uma região chamada Cerro Picchu. Seguiam com ele mais de 40 mil homens, embora poucos estivessem armados e preparados para a luta. Seus planos contavam com um ataque vindo do nordeste, por Diego Cristóbal, irmão de Túpac, e com a adesão da população indígena local. Em 2 de janeiro de 1781 os combates começaram. Por dias as tropas do vice-rei, cerca de 12 mil homens, conseguiram manter os invasores afastados da cidade, tempo suficiente para receberem um reforço de 8 mil homens, seis canhões e 3 mil fuzis vindos de Lima. Os rebeldes, ao contrário, viram seus planos falharem. Diego Cristóbal não conseguiu ultrapassar as defesas espanholas do rio Urubamba e recuou. O policiamento ostensivo nas ruas de Cusco reprimiu qualquer tentativa local de sublevação. Em 8 de janeiro, Túpac fez uma tentativa desesperada e atacou a cidade com força total. A violenta batalha durou cerca de sete horas, mas as defesas se mantiveram praticamente intactas e os realistas tiveram poucas baixas.
Túpac desistiu do cerco e se aquartelou em Tinta. Em março, com o reforço de 17 mil soldados espanhóis, as tropas do vice-rei resolveram sufocar de vez a
rebelião. Em 5 de abril, os espanhóis infligiram uma gigantesca derrota às tropas tupamaristas. Depois de um dia de combates, ofereceram perdão àqueles que abandonassem Túpac e se unissem a eles. No dia seguinte, cercaram o exército rebelde e conseguiram outra grande vitória, graças a informações entregues por traidores do exército inca. Os rebeldes se dispersaram e fugiram da cidade, mas Túpac e seus colaboradores mais próximos foram presos em um emboscada preparada por seus próprios partidários. Apenas uma pequena parte do exército rebelde conseguiu se refugiar nas montanhas. Na mesma semana, para comemorar sua vitória, os espanhóis enforcaram 70 curacas rebeldes na mesma praça onde o corregedor Arriaga perecera.
Túpac e sua família foram levados a Cusco, onde foram torturados para que dessem informações sobre os demais líderes rebeldes, como Diego Cristóbal, que conseguira fugir. “Diz a tradição que, sem ter como se comunicar com seus companheiros, Túpac escreveu uma carta com seu próprio sangue, em um pedaço de suas vestes, convocando todos para a luta, mas a mensagem acabou interceptada pelos espanhóis”, diz o antropólogo Rodrigo Montoya, da Universidade San Marcos, em Lima. Após 35 dias de torturas, em 18 de maio de 1871 Tupac foi levado para receber sua sentença em praça pública, no centro de Cusco: esquartejamento. Antes que a pena fosse aplicada, no entanto, Túpac assistiu ao enforcamento de seus homens rebeldes. Depois, dois filhos seus, Hipólito e Fernando, junto com Micaela, sua mulher, tiveram suas línguas cortadas, antes de serem executados. Enfim chegou sua vez. “Seus braços e pernas foram atados a quatro cavalos, que foram incitados a correrem cada um para uma direção”, diz Carpio. “Depois do insucesso de várias tentativas, os espanhóis desistiram do esquartejamento e cortaram a cabeça do inca.”
A
rebelião no Alto Peru, no entanto, não acabou aí. Prosseguiu em duas frentes. Sob a liderança de Túpac Catari, cujo verdadeiro nome era Julián Apasa, e que adotou o apelido em alusão a Túpac Amaru e Tomás Catari, outro líder revolucionário morto pelos espanhóis na Bolívia, a revolta chegou a La Paz. Catari cercou a cidade em março de 1781, com mais de 10 mil homens, e fez um violento ataque em que mais de 10 mil morreram – sendo 8 mil indígenas. Após 109 dias de sítio as tropas realistas furaram o cerco. Catari voltou a atacar em agosto, mas foi derrotado e preso. Em 31 de novembro de 1781 foi executado.
A segunda onda de resistência se deu na região montanhosa em torno de Cusco, onde Diego Cristóbal continuou comandando o então reduzido
exército de Túpac. Em maio de 1781, ele chegou a sitiar Puno, mas não a invadiu. Focos de conflito continuaram até 1782, quando Diego Cristóbal assinou um tratado de paz com os espanhóis. Apesar disso, depois de uma ameaça de levante em 1783, Diego e 120 supostos envolvidos acabaram executados.
Nos anos que se seguiram, os colonizadores exerceram uma forte repressão à cultura incaica e qualquer ornamento da nobreza inca foi proibido. “Falar o nome de Túpac Amaru em público virou um insulto aos espanhóis, um ato de rebeldia. A perseguição, no entanto, só aumentou o mito que se criou em torno dele e fez com que seus lendários feitos influenciassem gerações de revolucionários americanos, de
Bolívar a Che Guevara”, diz Montoya. O poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973), em um verso de 1970, recordou Túpac “Como um sol vencido/ uma luz desaparecida.../ Túpac germina na terra americana”.

O cerco a cusco
As forças de Túpac Amaru enfrentaram os espanhóis no local chamado de "cabeça do puma"
1. Chegada
Em 28 de dezembro,Túpac acampa com 40 mil homens ao nordeste de Cerro Picchu
2. Cerco
As tropas de Túpac se posicionam ao norte. É dia 2 de janeiro de 1781
3. 1º ataque
Túpac ataca pela Quebrada de Cayra, mas 12 mil soldados o detêm
4. 2º ataque
A segunda tentativa de conquista da cidade foi elo Cerro Pukin, ao sul
5. 3º ataqueTúpac luta durante sete horas contra os próprios índios e retira seu exército

Todos os Túpacs
O ideal de uma América unida contra os invasores inspirou até cantores de rap
O PRIMEIRO TÚPAC
Após a queda de Atahualpa e de Cusco, outros líderes incas se fizeram imperadores e resistiram por 40 anos à dominação espanhola. Túpac Amaru foi o último deles. Em 1572, após um massacre de mensageiros do vice-rei do
Peru, mortos por homens de Túpac, os espanhóis iniciaram uma caçada ao imperador. Uma força de 250 homens partiu em direção a Vilcabamba, cidade de Túpac, destruindo altares e fortalezas incas que encontraram no caminho. Em Vilcabamba, incendiaram a cidade e prenderam seu líder, para depois executá-lo em Cusco, no mesmo local onde seu descendente, José Gabriel Túpac Amaru, seria executado mais de 200 anos depois.

MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO TÚPAC AMARU – MRTA
Fundado em 1984, a organização peruana começou suas atividades de guerrilha em 1986. Contra o governo de Alan García, o MRTA promoveu seqüestros, assassinatos e atentados a bomba nas regiões de San Martín e Juanji. Em dezembro de 1996, 14 membros invadiram a residência do embaixador japonês em Lima, fazendo centenas de reféns por quase quatro meses. Em abril do ano seguinte, tropas militares tomaram a residência, libertaram os reféns e mataram todos os terroristas.

OS TUPAMAROS
O grupo surgiu em 1968 e atuou com bastante impacto na cena política uruguaia até 1972, quando inúmeras ações do governo ditatorial militar exterminaram muitos de seus integrantes. O grupo Inspirou inúmeras guerrilhas na Europa. No filme Estado de Sítio (1972), o cineasta grego Costa-Gavras mostrou a ação mais famosa dos tupamaros, o seqüestro e morte do agente da CIA Dan Mitrione, que treinou torturadores durante a ditadura no Uruguai.

TUPAC AMARU SHAKUR (“2PAC”)
Rapper americano nascido no Bronx, bairro de Nova York, nos Estados Unidos, em junho de 1971. Tupac Amaru Shakur teve uma infância difícil morando em abrigos e cortiços. Seu pai, com quem nunca teve contato, era ligado aos Panteras Negras – grupo político de afirmação dos negros americanos. Aos 15 anos, vivendo em Baltimore, começou a compor. Aos 20 anos, participava de guangues e já havia passado oito meses na prisão. Em 1990 lançou seu primeiro disco e em 1992 estreou em carreira solo com o álbum 2Pacalypse Now. Suas letras tinham um tom político desafiador. Como em “Panther Power”, do álbum The Lost Tapes, em que diz:
"O sonho americano não foi feito para mim/ Lady Liberty é uma hipócrita, ela mentiu para mim/Me prometeu liberdade, educação, igualdade/ Não me deu nada além de escravidão/ Tempo de mudar o governo, agora é o poder da Pantera".Shakur foi assassinado em 1997, baleado diversas vezes no peito depois de uma discussão.


Saiba mais
Livros
La Rebelión de Túpac Amaru, Boleslao Lewin, Instituto Cubano del Libro, 1972 - Maior análise sobre Túpac Amaru, o livro esmiúça o papel dos participantes dos eventos revolucionários
Túpac Amaru y sus Compañeros, Juan Jose Vega, Municipalidad del Qosqo, 1995 - Mostra o cenário da vida de Túpac e como era o dia-a-dia na cidade de Cusco
A Rebelião de Tupac Amaru, Kátia Gerab e Maria Angélica Campos Resende, Brasiliense, 1987 - Um panorama detalhado da revolução incaNuestra América, Antonio Núñez Jiménez, Editorial Pueblo Y Educación, 1990 - Conta, com riqueza de detalhes, a história geral da América Latina
Túpac Amaru, o filho do sol
No fim do século 18, Túpac Amaru liderou a maior rebelião indígena da América, que incendiou o coração dos Andes e inspirou revolucionários como Bolívar e Che Guevara
por Alessandro Meiguins
O mundo amanheceu ao contrário naquele dia em Tinta, um pequeno povoado no sul do vice-reino do Peru. Acostumada a ser explorada e maltratada pelas tropas do mandachuva local, o espanhol Antonio Arriaga, a população mal conseguia acreditar que era ele quem dava seus últimos suspiros, pendurado pelo pescoço na ponta de uma corda, em plena praça central do vilarejo. Ao seu lado, comandando a execução, estava José Gabriel Túpac Amaru. Vestido para a guerra, com o tradicional ornamento inca em forma de um sol dourado no peito, convocava aos berros índios, mestiços e negros para lutar contra a dominação espanhola. Naquele 4 de novembro de 1780, com o corpo de Arriaga balançando atrás de si, Túpac Amaru, descendente da linhagem imperial dos incas, declarou que não existiam mais impostos e que os escravos estavam livres. “Foi o início de uma rebelião que se espalharia pelos Andes e chegaria até os altiplanos bolivianos”, diz Julio Vera del Carpio, historiador da Casa da Cultura Peruana, em São Paulo. Quase 300 anos depois de os espanhóis desembarcarem na América, o filho do sol estava de volta.
Os espanhóis desembarcaram na América em 1492 ávidos por encontrar riquezas que financiassem seus navios, suas armas e sua nobreza. Quando chegaram ao
Peru, em 1527, e descobriram as minas de prata da região, não perderam tempo. Reuniram um exército sob o comando de Francisco Pizarro e trataram de eliminar todo aquele que pudesse afastá-los de seu objetivo. Por “todo aquele” entenda-se os incas, que habitavam desde as cordilheiras no Peru até os altiplanos bolivianos. Em 1532, os espanhóis iniciaram uma conquista rápida e implacável. Com a vantagem das armas de fogo e do duro aço espanhol, submeteram os guerreiros indígenas e suas lanças de cobre. Pizarro conquistou Cusco, a capital inca, e capturou e executou Atahualpa, seu imperador. Em seguida nomeou um novo ocupante para o trono: Manco Inca Yupanqui. Pouco tempo depois, no entanto, Manco Inca percebeu que estava sendo usado pelos espanhóis e fugiu de Cusco, iniciando uma revolta. A aventura durou pouco: os espanhóis mataram Manco Inca e seus sucessores. O último foco de resistência foi derrotado em 1572, com o enforcamento do derradeiro imperador inca, o primeiro Túpac Amaru (foram vários “Túpacs”). Foi o ponto final na civilização inca na América do Sul, “que ocupou um território maior que o do Império Romano”, diz Antonio Núnez Jiménez, no livro Nuestra América. A partir desse momento, seus mais de 3 milhões de habitantes tinham um novo senhor.
A primeira coisa que os novos donos do pedaço fizeram foi estabelecer a “mita” – o trabalho forçado nas minas de prata e mercúrio. “Os índios eram convocados pelos espanhóis, arrastados a pé através dos vales montanhosos e muitos morriam exauridos no caminho”, diz Carpio. “Quando chegavam, tinham um breve descanso e, um ou dois dias depois, entravam nos estreitos buracos na terra em busca dos metais. Poucos sobreviviam por muito tempo às longas jornadas de trabalho, que chegavam a uma semana inteira dentro das minas, sem direito a alimentos ou descanso.” A Igreja teve papel especial nessa história. Extremamente religiosos, os incas foram levados a crer que o rei da
Espanha substituíra seu imperador no lugar reservado ao representante divino na Terra. Servir ao rei era como trabalhar para o próprio Deus-sol e ao morrer nas minas de prata estavam salvando suas almas do inferno.
Segundo Carpio, nas províncias os corregedores (espécie de prefeitos) tinham toda a liberdade para matar quantos índios fossem necessários para que a extração de prata continuasse a todo vapor. No entanto, em 200 anos de dominação, os espanhóis não eliminaram completamente as lideranças indígenas. Pelo contrário, parte do controle sobre a população era feita com o consentimento e apoio desses líderes – chamados de curacas, descendentes da nobreza inca. Convertidos ao catolicismo, muitos, inclusive, recrutavam membros das tribos para o trabalho forçado nas minas.
Descendente do primeiro Túpac, José Gabriel Túpac Amaru era um dos líderes que discordavam dessa prática. Curaca de Pampamarca, Tungasuca e Surimana, morava na província de Tinta, a 100 quilômetros de Cusco. Túpac herdou de sua família 70 pares de mulas, com as quais transportava mercadorias através dos
Andes. No meio daquela região montanhosa, ter um par de mulas era como ter um caminhão. Túpac era próspero, respeitado e bem relacionado. Insatisfeito com o que via na região, defendia junto às autoridades espanholas uma reforma no sistema colonial. Aos tribunais de Lima encaminhara um pedido oficial em que pediu a eliminação do cargo do corregedor, substituindo-o por prefeitos eleitos nas províncias e povoados, e o fim da mita. Nada conseguiu. Aos poucos, passou a espalhar a idéia de rebelião. Em uma carta aberta à população, dizia que os corregedores faziam do sangue dos peruanos “sustento para sua vaidade”. Conseguiu a simpatia e apoio de alguns curacas, que se dispuseram a lutar.
Tinta foi apenas o primeiro alvo da revolta. Após matar
Arriaga, Túpac e seus homens percorreram povoados e vilas da região, prendendo e enforcando as autoridades espanholas que encontravam. Ficavam com seu dinheiro e armas e distribuíam seus bens entre a população. Túpac nomeou chefes locais e conseguiu que milhares de pessoas aderissem à sua tropa. Aterrorizado com a rapidez com que a revolta se espalhava, o bispo de Cusco, Juan Manuel de Moscoso y Peralta, enviou 1 500 soldados para eliminar o rebelde. Em 18 de novembro, no povoado de Sangarara, entre Cusco e Tinta, Túpac enfrentou o exército do rei com 6 mil homens sob seu comando. Em menos de um dia o inca cercou os soldados do bispo. Depois de intensos combates, o último grupo de espanhóis se refugiou na igreja do povoado, esperando que o indígena poupasse o local sagrado. Túpac não quis saber: invadiu a igreja e matou todos. Em represália, Moscoso y Peralta excomungou Túpac Amaru e seus seguidores. Essa era a maior desonra que alguém poderia sofrer na época. Tanto para católicos quanto para indígenas, a excomunhão significava que a pessoa estava distante de Deus. O efeito da punição logo se fez sentir. “Por conta disso, numerosos adeptos da causa tupamarista abandonaram suas fileiras ou deixaram de nelas ingressar”, afirma Kátia Baggio, historiadora da Universidade Federal de Minas Gerais.
Túpac se preparou para invadir Cusco. A estratégia era tomar Puno, que ficava entre Cusco e Potosí, para depois avançar sobre a capital. No entanto, após os eventos em Sangarara, o vice-rei do
Peru, Agustín de Jáuregui, resolveu pedir auxílio à Espanha. Se as tropas do rei Carlos III chegassem ao Peru, a rebelião não teria chance, por isso o inca adiantou seus planos. Cusco era uma verdadeira fortaleza. Cercada de grandes muralhas de pedra, a antiga capital do império inca tinha uma rígida planificação urbana em forma quadriculada, cujo desenho lembrava a forma de um puma. As tropas da cidade partiram em direção aos rebeldes, para conter sua chegada, enquanto mais soldados preparavam a defesa. Muitos curacas católicos, junto com suas tribos, se mostraram fiéis à Igreja e ao rei da Espanha, e ajudaram os europeus a montar uma estratégia para conter os rebeldes. O clima de agitação e expectativa diante da iminente invasão levou a cidade ao caos.
Em 28 de dezembro de 1780, Túpac chegou ao limite norte de Cusco, uma região chamada Cerro Picchu. Seguiam com ele mais de 40 mil homens, embora poucos estivessem armados e preparados para a luta. Seus planos contavam com um ataque vindo do nordeste, por Diego Cristóbal, irmão de Túpac, e com a adesão da população indígena local. Em 2 de janeiro de 1781 os combates começaram. Por dias as tropas do vice-rei, cerca de 12 mil homens, conseguiram manter os invasores afastados da cidade, tempo suficiente para receberem um reforço de 8 mil homens, seis canhões e 3 mil fuzis vindos de Lima. Os rebeldes, ao contrário, viram seus planos falharem. Diego Cristóbal não conseguiu ultrapassar as defesas espanholas do rio Urubamba e recuou. O policiamento ostensivo nas ruas de Cusco reprimiu qualquer tentativa local de sublevação. Em 8 de janeiro, Túpac fez uma tentativa desesperada e atacou a cidade com força total. A violenta batalha durou cerca de sete horas, mas as defesas se mantiveram praticamente intactas e os realistas tiveram poucas baixas.
Túpac desistiu do cerco e se aquartelou em Tinta. Em março, com o reforço de 17 mil soldados espanhóis, as tropas do vice-rei resolveram sufocar de vez a
rebelião. Em 5 de abril, os espanhóis infligiram uma gigantesca derrota às tropas tupamaristas. Depois de um dia de combates, ofereceram perdão àqueles que abandonassem Túpac e se unissem a eles. No dia seguinte, cercaram o exército rebelde e conseguiram outra grande vitória, graças a informações entregues por traidores do exército inca. Os rebeldes se dispersaram e fugiram da cidade, mas Túpac e seus colaboradores mais próximos foram presos em um emboscada preparada por seus próprios partidários. Apenas uma pequena parte do exército rebelde conseguiu se refugiar nas montanhas. Na mesma semana, para comemorar sua vitória, os espanhóis enforcaram 70 curacas rebeldes na mesma praça onde o corregedor Arriaga perecera.
Túpac e sua família foram levados a Cusco, onde foram torturados para que dessem informações sobre os demais líderes rebeldes, como Diego Cristóbal, que conseguira fugir. “Diz a tradição que, sem ter como se comunicar com seus companheiros, Túpac escreveu uma carta com seu próprio sangue, em um pedaço de suas vestes, convocando todos para a luta, mas a mensagem acabou interceptada pelos espanhóis”, diz o antropólogo Rodrigo Montoya, da Universidade San Marcos, em Lima. Após 35 dias de torturas, em 18 de maio de 1871 Tupac foi levado para receber sua sentença em praça pública, no centro de Cusco: esquartejamento. Antes que a pena fosse aplicada, no entanto, Túpac assistiu ao enforcamento de seus homens rebeldes. Depois, dois filhos seus, Hipólito e Fernando, junto com Micaela, sua mulher, tiveram suas línguas cortadas, antes de serem executados. Enfim chegou sua vez. “Seus braços e pernas foram atados a quatro cavalos, que foram incitados a correrem cada um para uma direção”, diz Carpio. “Depois do insucesso de várias tentativas, os espanhóis desistiram do esquartejamento e cortaram a cabeça do inca.”
A
rebelião no Alto Peru, no entanto, não acabou aí. Prosseguiu em duas frentes. Sob a liderança de Túpac Catari, cujo verdadeiro nome era Julián Apasa, e que adotou o apelido em alusão a Túpac Amaru e Tomás Catari, outro líder revolucionário morto pelos espanhóis na Bolívia, a revolta chegou a La Paz. Catari cercou a cidade em março de 1781, com mais de 10 mil homens, e fez um violento ataque em que mais de 10 mil morreram – sendo 8 mil indígenas. Após 109 dias de sítio as tropas realistas furaram o cerco. Catari voltou a atacar em agosto, mas foi derrotado e preso. Em 31 de novembro de 1781 foi executado.
A segunda onda de resistência se deu na região montanhosa em torno de Cusco, onde Diego Cristóbal continuou comandando o então reduzido
exército de Túpac. Em maio de 1781, ele chegou a sitiar Puno, mas não a invadiu. Focos de conflito continuaram até 1782, quando Diego Cristóbal assinou um tratado de paz com os espanhóis. Apesar disso, depois de uma ameaça de levante em 1783, Diego e 120 supostos envolvidos acabaram executados.
Nos anos que se seguiram, os colonizadores exerceram uma forte repressão à cultura incaica e qualquer ornamento da nobreza inca foi proibido. “Falar o nome de Túpac Amaru em público virou um insulto aos espanhóis, um ato de rebeldia. A perseguição, no entanto, só aumentou o mito que se criou em torno dele e fez com que seus lendários feitos influenciassem gerações de revolucionários americanos, de
Bolívar a Che Guevara”, diz Montoya. O poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973), em um verso de 1970, recordou Túpac “Como um sol vencido/ uma luz desaparecida.../ Túpac germina na terra americana”.

O cerco a cusco
As forças de Túpac Amaruenfrentaram os espanhóis no localchamado de "cabeça do puma"
1. Chegada
Em 28 de dezembro,Túpac acampa com 40 mil homens ao nordeste de Cerro Picchu
2. Cerco
As tropas de Túpac se posicionam ao norte. É dia 2 de janeiro de 1781
3. 1º ataque
Túpac ataca pela Quebrada de Cayra, mas 12 mil soldados o detêm
4. 2º ataque
A segunda tentativa de conquista da cidade foi elo Cerro Pukin, ao sul
5. 3º ataqueTúpac luta durante sete horas contra os próprios índios e retira seu exército

Todos os Túpacs
O ideal de uma Américaunida contra os invasores inspirou até cantores de rap
O PRIMEIRO TÚPAC
Após a queda de Atahualpa e de Cusco, outros líderes incas se fizeram imperadores e resistiram por 40 anos à dominação espanhola. Túpac Amaru foi o último deles. Em 1572, após um massacre de mensageiros do vice-rei do
Peru, mortos por homens de Túpac, os espanhóis iniciaram uma caçada ao imperador. Uma força de 250 homens partiu em direção a Vilcabamba, cidade de Túpac, destruindo altares e fortalezas incas que encontraram no caminho. Em Vilcabamba, incendiaram a cidade e prenderam seu líder, para depois executá-lo em Cusco, no mesmo local onde seu descendente, José Gabriel Túpac Amaru, seria executado mais de 200 anos depois.
MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO TÚPAC AMARU – MRTA
Fundado em 1984, a organização peruana começou suas atividades de guerrilha em 1986. Contra o governo de Alan García, o MRTA promoveu seqüestros, assassinatos e atentados a bomba nas regiões de San Martín e Juanji. Em dezembro de 1996, 14 membros invadiram a residência do embaixador japonês em Lima, fazendo centenas de reféns por quase quatro meses. Em abril do ano seguinte, tropas militares tomaram a residência, libertaram os reféns e mataram todos os terroristas.
OS TUPAMAROS
O grupo surgiu em 1968 e atuou com bastante impacto na cena política uruguaia até 1972, quando inúmeras ações do governo ditatorial militar exterminaram muitos de seus integrantes. O grupo Inspirou inúmeras guerrilhas na Europa. No filme Estado de Sítio (1972), o cineasta grego Costa-Gavras mostrou a ação mais famosa dos tupamaros, o seqüestro e morte do agente da CIA Dan Mitrione, que treinou torturadores durante a ditadura no Uruguai.
TUPAC AMARU SHAKUR (“2PAC”)
Rapper americano nascido no Bronx, bairro de Nova York, nos Estados Unidos, em junho de 1971. Tupac Amaru Shakur teve uma infância difícil morando em abrigos e cortiços. Seu pai, com quem nunca teve contato, era ligado aos Panteras Negras – grupo político de afirmação dos negros americanos. Aos 15 anos, vivendo em Baltimore, começou a compor. Aos 20 anos, participava de guangues e já havia passado oito meses na prisão. Em 1990 lançou seu primeiro disco e em 1992 estreou em carreira solo com o álbum 2Pacalypse Now. Suas letras tinham um tom político desafiador. Como em “Panther Power”, do álbum The Lost Tapes, em que diz:
"O sonho americano não foi feito para mim/ Lady Liberty é uma hipócrita, ela mentiu para mim/Me prometeu liberdade, educação, igualdade/ Não me deu nada além de escravidão/ Tempo de mudar o governo, agora é o poder da Pantera".Shakur foi assassinado em 1997, baleado diversas vezes no peito depois de uma discussão.


Saiba mais
Livros
La Rebelión de Túpac Amaru, Boleslao Lewin, Instituto Cubano del Libro, 1972 - Maior análise sobre Túpac Amaru, o livro esmiúça o papel dos participantes dos eventos revolucionários
Túpac Amaru y sus Compañeros, Juan Jose Vega, Municipalidad del Qosqo, 1995 - Mostra o cenário da vida de Túpac e como era o dia-a-dia na cidade de Cusco
A Rebelião de Tupac Amaru, Kátia Gerab e Maria Angélica Campos Resende, Brasiliense, 1987 - Um panorama detalhado da revolução incaNuestra América, Antonio Núñez Jiménez, Editorial Pueblo Y Educación, 1990 - Conta, com riqueza de detalhes, a história geral da América Latina