sábado, 15 de agosto de 2009

"O Bric virou BIC"

"O Bric virou BIC"

Segundo o cientista político, a Rússia não merece figurar mais no bloco das grandes economias emergentes
Divulgação
Bremmer: "A Rússia é um Estado brutal e autoritário"
Por Felipe Carneiro | 06.08.2009 | 00h01

Nenhum dos grandes países emergentes escapou da crise sem arranhões. Passado o pior momento, porém, todos eles dão algum sinal de recuperação. A exceção é a Rússia, cujo PIB recuou 10% no primeiro semestre de 2009. Foi o bastante para que analistas como Ian Bremmer, presidente da Eurasia, consultoria americana de risco político, começassem a sustentar a ideia de que a letra "r" deveria ser riscada da sigla Bric, criada para designar o grupo formado pelas grandes economias em desenvolvimento no mundo (Brasil, Rússia, Índia e China).

1) Por que a crise abateu a Rússia de forma mais severa?
Com o fim da alta de preços do petróleo, que sustentou um ciclo de pujança na Rússia, as deficiências econômicas e institucionais do país ficaram evidentes. A Rússia é um Estado brutal e autoritário. Não é de hoje que as instituições estão sendo enfraquecidas. Elas são orientadas para defender alguns indivíduos, e não a sociedade.

2) Uma possível reação do preço do petróleo não poderia recolocar a Rússia num bom patamar?
As reservas russas de petróleo são muito menores que as dos sauditas, por exemplo. Além disso, o país tem outros problemas graves. Um deles é o demográfico. Sua população está diminuindo e envelhecendo.

3) Segundo esse raciocínio, a Rússia corre o risco de ficar de fora do grupo do Bric?
A sigla Bric ficou popular porque resumiu com precisão uma tendência que os analistas observavam há alguns anos: o ganho de importância no cenário mundial das grandes economias emergentes. Em nome da coerência, a sigla deveria ser renomeada para BIC. Não faz mais sentido manter a Rússia nesse grupo.

4) Existe algum outro país que poderia ocupar o lugar da Rússia?
A Indonésia é uma forte candidata. O país é um dos três maiores exportadores mundiais de produtos como carvão, gás natural, óleo de dendê bruto e borracha. Sua população é consideravelmente maior do que a russa -- são mais de 200 milhões de pessoas -- e seus indicadores demográficos são ótimos. Além disso, é uma democracia legítima e reformista, sem armas nucleares.

5) Estaríamos na iminência de ver a criação de um Binc?
A Indonésia tem potencial para chegar ao nível próximo de China, Índia e Brasil, mas precisa antes resolver alguns problemas. Como pontos fracos, eu diria que faltam investimentos em estradas e linhas de trem e há problemas com geração e distribuição de energia. Precisam melhorar também a educação e resolver o problema do terrorismo.

6) Quais seriam os desafios dos outros grandes emergentes?
A população chinesa é enorme, mas muito menos desenvolvida economicamente do que a americana, a europeia e a japonesa. Além disso, o nível de consumo a que os chineses querem chegar é ambientalmente insustentável. Eles veem os americanos em seus carros e também querem os deles, mas é inconcebível ter 1 bilhão de motoristas nas ruas do país.

7) E quanto a Índia e Brasil?
A Índia sofre com a descentralização do sistema político, que torna difícil a tomada de decisões, e com a falta de infraestrutura. A desvantagem do Brasil é a burocracia excessiva, que prejudica o clima de inovação e de empreendedorismo no país.



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