Na quinta-feira, 16/07, Michelleti disse que poderia renunciar, com a condição que Zelaya não retornasse ao país, o que é um contra-senso, já que esse é o ponto central do conflito. Mesmo assim, a declaração não gerou expectativas nos movimentos sociais de que realmente cumpriria sua palavra. Manuel Zelaya, até então um político tradicional de Honduras, passou a ser um problema para as elites e o exército hondurenho quando propôs uma consulta à população sobre a eleição de uma Assembléia Constituinte que reformaria a Constituição. Ao contrário do que alega o governo 'de fato' a Assembléia Constituinte não iria beneficiar o presidente Zelaya, já que seria votada durante as eleições presidências e beneficiaria somente o próximo presidente. O próprio Micheletti já tentou mudar a constituição em 1985, dois anos depois de ser criada. Na época, ele pediu uma assembléia constituinte para mudar os artigos 373, 374 e 375, mecanismos de reforma e defesa da constituição que o seu governo 'de fato' usa hoje em dia para defender o golpe.

O governo dos Estados Unidos, apesar de uma condenação formal, pouco tem realizado para garantir o retorno de Zelaya à Honduras, além de propor a ineficiente mesa de negociação na Costa Rica. Movimentos sociais hondurenhos e governos latinoamericanos que se posicionam mais criticamente ao golpe (Venezuela, Equador, Nicarágua, por exemplo) denunciam interesses norte-americanos no golpe. O exército estadunidense tem uma base militar em Honduras onde treina suas tropas, e o General Vazquez (articulador do golpe) foi aluno da Escola das Américas, instituição do governo dos EUA que formou os maiores responsáveis pelas ditaduras militares na América Latina desde os anos 1960. Além disso, Honduras é uma economia extremamente dependente, onde empresas e instituições bancárias norte-americanas conseguem muitos rendimentos. E alguns senadores republicanos e setores da mídia dos EUA já se pronunciaram a favor do governo golpista.

Movimentos sociais, estudantis, sindicatos e organizações de direitos humanos em Honduras realizam constantes manifestações contra o golpe. No dia 15, uma greve geral de 48 horas paralisou o país, com bloqueio de estradas, marchas e manifestações (veja fotos no CMI Honduras). Milhares de pessoas participam das manifestações pacíficas contra o governo golpista e o que encontram é geralmente repressão, detenções e censura.

O Comité de Familiares de Detenidos Desaparecidos en Honduras (COFADEH) divulgou um informe sobre as violações dos direitos humanos em Honduras. No documento, mais de 1000 detenções ilegais são relatadas, além de 4 assassinatos e 59 lesões e ferimentos causados pelas forças militares e policiais e mais casos de censuras a jornalistas e ameaças. O informe também contextualiza o golpe em Honduras, ressaltando como consequência as violações dos direitos humanos a partir do dia 28 de junho, dia do golpe. Um dos casos é do filho de um dos advogados da COFADEH, Jose David Murillo Sanchez, seu filho, Isy Obed Murillo, foi morto com um tiro na cabeça quando a polícia e o exército dispararam tiros contra os manifestantes que aguardavam o avião do presidente Zelaya no domingo, 05/07. Murillo Sanchez foi preso na sexta-feira, 10/07, a razão da prisão foi um mandado de 2007, emitido por um juiz que o condenou "por desacato" por violar termos de sua condicional.

Jornalistas das redes estatais de tv TeleSur e VTV (TV Venezuelana) foram detidos e golpeados pela polícia, além de serem ameaçados para saírem do país. Além da censura, a mídia pró-golpista continua passando informações falsas para a população. Um exemplo foi a reportagem publicada pelo jornal La Prensa que mostra a foto de Isy Obed Murillo sendo carregado, já falecido, por manifestantes sem o tiro na cabeça e sem nenhuma marca de sangue.

Aproveitando-se do golpe, Micheletti instalou seu sobrinho como prefeito da segunda maior cidade de Honduras. O prefeito eleito de San Pedro Sula, Rodolfo Pailla Sunseri, ganhou as eleições municipais em novembro de 2008 com 63% dos votos. Enquanto o sobrinho de Micheletti, Willian Hall Micheletti, ficou em terceiro lugar com apenas 16%. No dia 2 de Julho, logo após o golpe, às 11 da manhã, trabalhadores e cidadãos relataram terem ouvido barulhos de explosões e tiros próximos da prefeitura de San Pedro Sula. Uma manifestação contra o golpe foi violentamente reprimida e mais de 50 pessoas foram presas. Desde então ninguém sabe do paradeiro do prefeito Padilla. E o sobrinho de Micheletti foi indicado para assumir o cargo.