quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Impasse em Honduras

Manoel Hygino dos Santos
Impasse em Honduras


O Brasil ainda não trouxe sua tropa de Haiti, onde se encontra em mandado da ONU, e já se envolve nos problemas com que Honduras se debate há décadas, até séculos. Aquela região da América Central tem vulcões que costumam entrar em erupção, causando preocupações, danos e vítimas.
A situação política, frequentemente em efervescência, também inquieta, causa danos e vítimas, quando se precisava de estabilidade, para resolver os problemas que são muitos, complexos e até graves.
Honduras nunca foi una. O propósito de submeter à população a elaboração de uma nova Constituição, a partir de uma consulta em novembro, foi interpretada como uma tentativa de prorrogar o mandato do presidente Zelaya, fê-lo perder o poder e escapar ao exterior.
A comunidade latino-americana condenou o golpe e os Estados Unidos, que desta vez nada tinham a ver, fez o mesmo. Manuel Zelaya, com seu chapéu de abas mais largas do que as dos antigos filmes coloridos de Hollywood sobre o México, deu uma de esperto e tentou entrar, sorrateiramente, no país. Encontrou resistência, deu no pé.
Eis que Zelaya faz nova tentativa, e surpreendentemente regressou ao país, em rumo direto à embaixada verde-amarela em Tegucigalpa. "Surpreendentemente" foi o advérbio usado pelas agências internacionais. Em seguida o presidente de plantão, Roberto Micheletti, determinou o fechamento dos aeroportos do país, até segunda ordem.
Zelaya declara que ninguém o tirará mais do país, estabelecendo como palavras de ordem "pátria, restituição ou morte". Micheletti retruca, exigindo que se lhe entreguem o ex-abrigado na embaixada. E Brasília reitera que não reconhece o Governo de fato de Honduras.
Os outros países da América também são solidários, não reconhecem o Governo golpista, mas não entram no jogo perigoso. Preferem manter-se na expectativa, porque o maior estadista do mundo hoje, segundo Zelaya, é o presidente brasileiro.
Com o clima tenso, o Governo hondurenho interino ameaça responsabilizar o Brasil por possíveis atos de violência como consequência de dar refúgio ao presidente deposto. Afirmou ainda ser inaceitável que Zelaya fizesse convocações públicas à insurgência e à mobilização política a partir da embaixada.
Zelaya apelava os hondurenhos da capital a aumentar a pressão sobre o regime interino de Micheletti, que já teria mandato de prisão contra Zelaya.
A polícia dispersou simpatizantes do deposto, que protestavam diante da embaixada. Em determinado período, cortou-se a água e a luz.
Sou plenamente de acordo com assessores próximos do presidente Lula, de que o retorno a Honduras de Zelaya e a escolha da embaixada do Brasil para abrigar-se jogaram o Brasil numa situação delicada. Fontes do Planalto observam que o regresso sem aviso prévio do presidente de Honduras poderá dificultar as negociações com o Governo interino. Poderá trazer, como já trouxe, problema para a diplomacia brasileira no processo.
Fonte palaciana comentou: "Em nenhum momento, o Brasil questionou a legitimidade de Zelaya e de seu pleito de volta imediata ao poder, mas sua presença na embaixada jogou o Brasil no centro do impasse". Não é este o papel do Brasil in casu, mas, sim, da OEA-Organização dos Estados Americanos. Zelaya afirma que escolheu o Brasil porque o colega do país do Sul é "amigo". Mas, o de pequena nação centro-americana demonstrou não ser "muy amigo". A recíproca não é verdadeira. Curiosamente, enquanto o Brasil quer dar demonstração de prestígio, de força política junto às nações do continente, mais sabido - ou sábio - foi Obama. Advertiu que os Estados Unidos não querem resolver sozinhos os problemas do mundo.

Postado em 3 de Outubro, 2009

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